"Meu pai, o Toninho, foi o meu pai. Está acontecendo de novo, o mês de agosto chegou, depois vem setembro e logo vem outubro. Três meses intensos para mim, será que daqui alguns anos serão menos intensos? No dia 21 de agosto meu querido pai nasceu, permaneceu nesta terra por 59 anos e no dia 21 de outubro, deixou ela e partiu para a verdadeira vida. Quando o dia dos pais se aproxima, fico um pouco inquieto e pouco depois, o dia do seu nascimento aparece. Quando consigo me recompor um pouco, outubro começa, e parece que não consigo pensar em outra coisa, a não ser no meu pai. Estive pensativo esses dias. A vontade de abraçar, tocar, ver e dialogar com o meu pai aumentam a cada semana. Pensei que essas emoções se ameniziariam ao passar do tempo, mas ainda não consegui encontrar um descanso. Não perdi a paz, continuo sereno, mas a saudade só se intensifica. Meu pai foi o maior exemplo de homem em minha vida. Quando leio o evangelho, me apaixono pouco a pouco por Cristo, e chego a conclusão que não consigo desassociar o meu pai do evangelho. Nestes pequenos 5 minutos de leitura do novo testamento que faço todos os dias, percebo como seria incrível ser amigo de Jesus, pois Ele é muito companheiro. Companheiro... Me lembro que por ocasião de um aniversário do meu pai, cada filho escreveu uma palavra que mais descrevia o Toninho. Eu escrevi a palavra companheiro. Talvez seja por isso que para mim esteja sendo difícil a sua ausência física. Meu pai se esforçava para estar presente em todos os momentos que conseguia, com os seus filhos.Meu pai teve 11 filhos e houveram épocas que 6 de nós estudávamos em escolas, e algumas vezes, diferentes umas das outras. Meu pai buscava cada filho em várias ocasiões ao longo da semana, e sempre dedicava algum tempo do percurso para saber como foi o dia do filho. O triste é que eu nunca perguntava como havia sido o dia dele e que agora soube que eram bem puxados. Meu pai se sacrificava para estar com os filhos sempre. Quando comecei a estagiar em uma empresa em São Paulo, algumas vezes recebia a grande alegria de suas visitas. Me lembro que ele me mandava uma mensagem dizendo que estava no térreo da torre que eu trabalhava e perguntava se eu queria almoçar com ele. Me vinha no pensamento se ele estava se privando de algum almoço comercial só para estar comigo, e ainda por cima, nunca me apressou em nenhum almoço, sentia que tinha todo o tempo que quisesse para estar com ele. Eram incríveis esses momentos, ele sempre estava atento a tudo. Nestes almoços ele perguntava como estava minha faculdade, queria saber se eu já estava habituado a pegar transporte público em São Paulo, me aconselhava em situações que me acontecia no meu estágio e sempre queria saber se eu estava feliz. Em janeiro de 2018, comecei a morar em uma residência para universitários do Opus Dei, morava em São Paulo, estagiava e fazia faculdade a noite. No ano que eu decidi me mudar para São Paulo, meu pai deixou este mundo. Posso contar nos dedos de minhas duas mãos, a quantidade de dias que vi meu pai no ano de 2018. No começo, achava isso uma grande cruz, pois me culpava muito por ter deixado a casa de meus pais justo no ano em que meu querido pai faleceu. Mas depois de alguns meses, percebi que Deus me deu um presente. O ano de 2018 começou intenso, e comecei a me virar sozinho, aprendi a viver sem meus pais. Em um certo sentido, Deus me preparou para este choque, acredito que teria sido muito pior se eu estivesse em Campinas no último ano. Gostaria de ressaltar que não sinto remorsos de: "deveria ter beijado ele mais; ter pedido mais conselhos; ou ter visitado mais vezes ele", pois sei que do céu, ele sabe o quanto eu o amo. Mas gostaria de dar um conselho, ame mais intensamente todas as pessoas ao seu redor, irmãos, pais e amigos próximos. Pois nunca esquecerei que a última vez que vi meu pai, foi eu correndo para me aprontar para voltar para São Paulo, duas semanas antes de seu falecimento, e dei um simples beijo na sua testa. E ele me disse: "boa viajem, não corra na estrada". E eu disse, "é claro, não vou correr, pois já é de noite". Esta foi a minha última lembrança com meu pai vivo. Não consegui me despedir de meu pai, fui vê-lo apenas no velório. Terei que esperar um pouco para encontra-lo. Enquanto isso, ele espera de mim muito trabalho. Não irei deixar nada atrapalhar o meu encontro definitivo com o Toninho."